agricultura recebe pouco auxílio, comparada a concorrentes
O presidente Lula (PT) anuncia nesta terça (27) o Plano Safra 2023-24, com expectativa de volume recorde para subsidiar a equalização dos juros dos empréstimos que financiam o setor que mais tem contribuído para o crescimento do PIB brasileiro. Como mostrou reportagem da Gazeta do Povo, Lula deve aproveitar um cenário de provável diminuição dos juros futuros para “fazer mais com o mesmo dinheiro” e, assim, alegar que superou os números do governo Jair Bolsonaro (PL).
A maior parte dos produtores brasileiros, contudo, não é beneficiada diretamente pelos juros do Plano Safra, que atendem cerca de um terço da necessidade. Muitos financiam as atividades com recursos próprios ou fazendo operações de barter (troca) com fornecedores de insumos e tradings, ou, ainda, recorrendo a empréstimos bancários convencionais.
Uma pesquisa da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA) de dois anos atrás mostrou que 38% dos produtores nunca acessaram qualquer tipo de crédito rural. Dentre as dificuldades, o excesso de burocracia, a exigência de diversas garantias, a demora de liberação do crédito e a falta de informação.
Brasileiros são os que menos têm auxílios diretos do governo
Às dificuldades em acessar linhas de crédito com juros controlados, ainda assim bem maiores do que os principais competidores do Brasil, soma-se o fato de nossa agricultura estar entre as que menos recebem auxílios diretos do governo.
Levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP) mostra que a participação do Suporte Direto ao Produtor Rural (PSE) no Brasil correspondeu a 1,35% da receita bruta agropecuária (RBA) no período entre 2015 e 2020. Em comparação, na União Europeia essa relação foi de 19,33%, na China 12,17%, nos Estados Unidos 11,03% e, na Rússia, 6,68%, no mesmo período.
“Em geral, o orçamento dessas economias para criar subsídios é maior do que o nosso porque eles têm mais renda, são mais ricos. Chama atenção que, mesmo com uma cobertura menor e operando em condições menos favoráveis, o produtor aprendeu a tocar o barco nessas condições adversas”, diz Felippe Serigati, professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV/EESP).