‘As pessoas não valorizam o sono’, diz médica especialista no tema – Notícias
Ao dormir menos horas que o necessário ou recorrer a remédios para forçar o sono, milhões de brasileiros põem a própria saúde em risco.
O aumento de 676% das vendas de zolpidem nos últimos dez anos, mostrado pelo R7 nesta segunda-feira (28), é um fator de alerta, considera a neurologista Giuliana Macedo Mendes, presidente da Regional Centro-Oeste da ABS (Associação Brasileira do Sono).
“O zolpidem é rápido para induzir o sono, ele é um sedativo, é um sono químico, não é um sono natural da pessoa”, adverte a médica.
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O crescimento do consumo de medicamentos para dormir é apenas um ingrediente em uma sociedade que não se importa como deveria com o sono.
“As pessoas não valorizam o sono, acham que dormir é perda de tempo, têm maus hábitos, invadem o horário do sono…”, afirma a especialista.
A ABS estima que cerca de 73 milhões de brasileiros sofram com insônia, mas não se trata de um único problema com uma única solução.
“Cada um tem uma insônia particular. […] A grande maioria dos pacientes tem maus hábitos que fazem perpetuar a insônia ao longo da vida”, pontua Giuliana.
O zolpidem ou qualquer outro medicamento estão longe de ser o tratamento de primeira linha para a insônia, mas são poucas as pessoas que entendem isso.
“O caminho mais fácil é tomar o remédio, o mais difícil é mudar os hábitos. […] O ser humano quer o caminho mais fácil. O principal tratamento, padrão-ouro, que mais tem evidência científica, é terapia comportamental para insônia, não é medicamento. Se você não fizer o tratamento comportamental, que envolve mudança de hábitos de vida e várias questões, inclusive com tratamento psicológico associado ao sono, não sairá da insônia crônica”, explica a neurologista.
O uso excessivo de telas, como celular, TV e computador, e o consumo de cafeína, álcool e nicotina estão entre os vilões do sono.
O resultado vai ser maior dificuldade para adormecer, um sono de pior qualidade, despertares mais frequentes durante a noite e uma sensação de cansaço no dia seguinte.
Quando dormimos poucas horas por meses ou anos — o ideal é entre 7 e 9 horas por noite —, a tendência é que haja prejuízos à saúde.
“A privação do sono crônica que a insônia provoca, e outras doenças do sono também, ela aumenta o risco cardiovascular em até cinco vezes. Paciente que dorme menos vive menos, tem mais risco de infarto, AVC [acidente vascular cerebral], arritmia, hipertensão, diabetes, de câncer, porque diminui a imunidade [neste último caso]”, salienta Giuliana.
Médicos precisam conhecer o problema
A principal avaliação da representante da Associação Brasileira do Sono é a de que são poucos os médicos que entendem a fundo a insônia.
Ela aposta que a capacitação dos profissionais da saúde é fundamental para uma abordagem do problema que, de fato, melhore a vida das pessoas.
“Os médicos não têm formação dentro da faculdade de medicina sobre medicina do sono”, lembra a médica ao salientar que essa é uma área de estudo relativamente nova.
Com objetivo de disseminar mais informações sobre distúrbios do sono e tratamentos, começa nesta semana o 14º Congresso Brasileiro do Sono — de 30 de novembro a 3 de dezembro, em Goiânia.