Automutilação: o que fazer quando meu filho se machuca de propósito? – Notícias



A chegada de setembro costuma jogar luz sobre o tema da saúde mental. Embora o mês seja marcado pela campanha de prevenção ao suicídio, há inúmeros outros fatores que indicam que algo não vai bem, ainda que não haja, deliberadamente, a intenção de interromper a vida.


Um sintoma que gera preocupação é a autoflagelação — ato de machucar o próprio corpo, podendo ocorrer como método de enfrentamento e liberação de tensões e sentimentos negativos; uma maneira de lidar com dificuldades interpessoais, como conflitos em relacionamentos; forma de autopunição por supostos erros ou falhas; ou como um pedido implícito ou explícito de ajuda, explica a psiquiatra Julia Trindade, da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria). 



Há também a descrição por parte de alguns pacientes de ter a sensação de deter o controle sobre seus corpos, quando sentem que perderam o controle em relação a outros aspectos da vida, complementa a pediatra Anna Bohn, da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria).


As especialistas comentam que as faixas etárias mais afetadas costumam ser dos adolescentes e jovens adultos. Os motivos por trás da prática de se automutilar variam, podendo ir desde alterações hormonais somadas a angústias frequentes em relação ao futuro, a necessidade de aceitação em grupo, a busca por identidade, além da prevalência maior de bullying.


Todos estes fatores agregam riscos para transtornos psiquiátricos que favorecem esse tipo de comportamento, como o TPB (Transtorno de Personalidade Borderline), transtornos alimentares, abuso de substâncias, transtornos do espectro autista, transtornos de humor, transtornos depressivos graves e, em alguns casos, até em transtornos ansiosos.


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Elas acrescentam, ainda, que houve um aumento nas ocorrências de automutilação. 


O que fazer ao notar que meu filho está praticando automutilação?


“Descobrir que um filho está se envolvendo em autolesão sem intenção suicida é uma situação extremamente delicada e emocional. Primeiramente, é crucial manter a calma, apesar do turbilhão de emoções que você pode estar sentindo. Reagir com pânico ou julgamento pode tornar a situação ainda mais tensa e potencialmente afastar seu filho. Certifique-se de que o ambiente imediato é seguro, o que pode incluir a remoção de objetos que possam ser usados para esse comportamento”, pontua Julia. 


Anna acrescenta que, nesse momento, é preciso passar por conversas difíceis e estar aberto.


“É importante estar aberto ao diálogo e se preparar para conversas mais difíceis. Muitos pais acreditam que falar sobre o assunto pode incentivar seu filho a aumentar a automutilação quando, na verdade, o canal aberto de comunicação e um bom vínculo parental são os principais nortes do tratamento. Esteja preparado para ouvir mais, julgar e falar menos. Espere também reações exageradas e intensas ao questionar o que ocorre. Muitos adolescentes negam e tentam esconder, num primeiro momento. Manter a calma e encorajar conversas são muito importantes nesse primeiro passo.”


A psiquiatra pontua que, caso os ferimentos sejam graves, o atendimento médico imediato é crucial, assim como buscar uma avaliação psiquiátrica para entender o estado emocional daquele paciente. 


Após o primeiro impacto, é importante cuidar dos ferimentos e iniciar o tratamento indicado, junto com psicoterapia. A pediatra recomenda, também, que os pais façam acompanhamento com psicólogos, para entender melhor o andamento do quadro e enfrentar os possíveis desafios que possam surgir ao longo desse período. 


A abordagem pode incluir, além da terapia, o uso de alguns medicamentos, a depender se há a necessidade clínica por parte do paciente. 


“É essencial para entender os gatilhos e desenvolver habilidades de enfrentamento mais saudáveis. Treinamento de habilidades para regulação emocional podem ser uma forma de reduzir a chance de novos episódios”, aconselha Julia.



“É crucial envolver a família no tratamento, pois o apoio familiar é muitas vezes um fator importante na recuperação, especialmente quando falamos na adolescência. Muitos adolescentes escondem as marcas dos episódios de autolesão, então, os pais devem sempre observar mudanças de comportamento, observar adolescentes que estão sempre com braços e pernas cobertas mesmo em situações de temperatura mais alta.”


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