China tem mais de 100 delegacias no mundo para monitorar exilados


A China montou mais de cem “delegacias” informais em todo o mundo para monitorar, assediar e, até mesmo, repatriar cidadãos chineses que estão exilados. Para possibilitar essa operação, a ditadura comunista usa acordos bilaterais de segurança firmados com países da Europa e da África para ganhar a presença internacional. As informações foram divulgadas por relatório compartilhado pela CNN Internacional.

Em setembro deste ano, o grupo espanhol Safeguard Defenders, de defesa dos direitos humanos, informou ao site que encontrou provas de que a China comanda 54 delegacias no exterior. Agora, em dezembro, a Safeguard comunicou que existem outras 48 instituições administradas pelo país.

O grupo produziu um relatório chamado “Patrol and Persuade” (“patrulha e convença”, em tradução livre), que examinou o papel que os acordos entre a China e países europeus, como Itália, Croácia, Sérvia e Romênia, têm desempenhado na expansão de diversas “delegacias” chinesas.

Entre as novas denúncias consta a história de um cidadão chinês que foi coagido para voltar para casa por policiais disfarçados, localizada em Paris (França). Outros dois cidadãos da China foram entregues às autoridades da Europa, sendo um, na Sérvia e outro na Espanha.

A Safeguard informou que identificou quatro jurisdições policiais do Ministério de Segurança Pública da China, que estão ativas em pelo menos 53 países. O governo chinês negou que use forças policiais não oficiais fora do seu território.

“Esperamos que as partes relevantes parem de exagerar para criar tensões”, informou o Ministério chinês das Relações Exteriores, em novembro deste ano. “Usar isso como pretexto para difamar a China é inaceitável.” Em sua defesa, o país argumentou que, na verdade, as delegacias são centros administrativos, criados para ajudar os expatriados chineses em tarefas como renovar a carteira de motorista. Além disso, que os locais foram construídos em resposta à pandemia de covid-19, que deixou muitos chineses presos em outros países, incapazes de renovar a própria documentação.

O ministério chinês informou ainda que as delegacias são compostas por voluntários. Contudo, o último relatório da Safeguard mostrou que o estabelecimento contratou 135 pessoas para as primeiras 20 delegacias. Segundo a Safeguard, os locais existem há muitos anos antes da pandemia de covid-19.

Acordo de patrulhamento policial

A Itália, que já assinou diversos acordos bilaterais de segurança com a China desde 2015, permaneceu em silêncio desde que a Safeguard divulgou as revelações. Entre 2016 e 2018, a polícia italiana fez vários patrulhamentos com a polícia chinesa.

Em 2016, um policial italiano disse que a ação “levaria a uma cooperação internacional mais ampla, troca de informações e compartilhamento de recursos para combater os grupos criminosos e terroristas que afligem os países”. Conforme a Safeguard, a Itália sediou mais de dez delegacias chinesas.

No início de 2022, o jornal italiano La Nazione informou que as investigações locais não haviam descoberto nenhum crime nessas operações. Já o jornal Il Foglio citou chefes de polícia dizendo que as delegacias não possuem “nenhuma preocupação particular, pois pareciam ser meramente burocráticas”.

A China também fechou acordos bilaterais com Croácia e com a Sérvia entre 2018 e 2019. Oficiais chineses foram vistos patrulhando com os agentes croatas em julho deste ano. Conforme a Safeguard Defenders, o país chinês ainda firmou acordo com a África do Sul.

O consulado da China na Cidade do Cabo, capital do país, comunicou que o acordo “une todas as comunidades, tanto sul-africanos quanto cidadãos estrangeiros na África do Sul”.

China quer repatriar pessoas à força

Ainda segundo a Safeguard, a China tenta persuadir alguns cidadãos exilados para retornarem ao país, mesmo contra a vontade deles.

“O que vemos vindo da China são tentativas crescentes de reprimir a dissidência em todo o mundo, de ameaçar e assediar as pessoas, garantir que elas tenham medo o suficiente para permanecerem em silêncio ou então serem devolvidas à China contra sua vontade”, disse Laura Harth, diretora da Safeguard Defenders.

“Vai começar com telefonemas”, explicou. “Eles podem começar a intimidar seus parentes na China, a ameaçá-lo, fazer de tudo para persuadir os alvos no exterior a voltar. Se isso não funcionar, eles usarão agentes secretos no exterior.”





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