Com “Os Implacáveis”, Hollywood jogou luz em anti-heróis
A Hollywood da década de 70 deu início a uma profusão
de filmes com gêneros e estilos bastante diferenciados e, como sempre, seguindo
uma cartilha cujo objetivo principal era a conquista cada vez maior nas
bilheterias. Para tanto, os roteiristas miravam sobretudo os sentimentos da
hora do enorme público que pagava por um ingresso de cinema. Assim, percebendo
o descontentamento de grande parte da população por conta da Guerra do Vietnã,
já desacreditada não só da vitória, mas principalmente distante dos velhos
ideais conservadores familiares, o cinema jogou luz aos personagens
anti-heróis.
Os
Implacáveis (disponível no HBO Max), lançado em
1972, é justamente um clássico que atende a essas premissas, mas vai além ao
colocar na tela um casal como protagonista (o que também se tornaria comum). O
galã Steve McQueen interpreta o ladrão de bancos Doc McCoy. Após inúmeros
assaltos, Doc acaba sendo preso e não consegue liberdade condicional. A
alternativa que lhe resta é inserir a própria mulher na jogada. Ali MacGraw faz
Carol, a esposa sexy que irá negociar a saída de Doc da cadeia com um gângster
– muito interessado na moça, mas principalmente disposto a colocar Doc para
roubar outro banco em seu lugar.
O roteiro engenhoso de Walter Hill (que logo depois viraria um grande nome na direção) aproveita tudo o que há de melhor no livro The Getaway, de Jim Thompson, intensificando as sequências de violência, perseguição e até traição. Já o experiente diretor Sam Peckinpah cria uma espiral de sensações. Afinal, não é tarefa das mais simples fazer com que o público se apaixone por um casal de bandidos cativantes, num ambiente absolutamente agonizante, sem que se imponha um dilema moral. Dilema que praticamente se desfaz no terceiro e último ato do filme, quando o casal Doc e Carol está em fuga (ação que justifica o título original, The Getaway) e é por eles que o público deposita toda a sua torcida. Vale destacar que essa mesma história foi refilmada em 1994, com Kim Basinger e Alec Baldwin, lançada no Brasil com o título A Fuga.
Steve McQueen, à época um dos atores mais bem pagos da indústria, lembrado pelos sucessos Crown, o Magnífico e Bullitt, precisava de um projeto como esse depois de alguns deslizes como As 24 Horas de Le Mans e Dez Segundos de Perigo. McQueen foi duplamente premiado: além de uma história intensa e envolvente, teve ao seu lado Ali MacGraw, recém-transformada em estrela cobiçada em Hollywood por conta de sua interpretação em Love Story: Uma História de Amor. Deu tudo certo entre eles dentro e fora das telas: McQueen e MacGraw se divorciaram de seus respectivos e acabaram se casando. Informação bônus: este episódio é relatado na minissérie The Offer (Paramount+), que descreve os bastidores da produção de O Poderoso Chefão, cujo produtor Robert Evans era justamente o marido de MacGraw.