Covid altera a microbiota intestinal e permite a proliferação de bactérias perigosas – Notícias
Você já ouviu a expressão ‘o intestino é considerado nosso segundo cérebro’? Sem exageros, a conexão entre essas duas partes do corpo humano acontece e é fundamental para manter a nossa saúde.
O médico do Departamento de Gastroenterologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), Ricardo Barbuti explica que ‘ambos os órgãos, tanto cérebro, quanto intestino, têm origem comum embriológica, eles nascem da mesma célula, então eles acabam dividindo uma comunicação bastante íntima’.
Essa conexão pode ser por via nervosa ou sanguínea, por exemplo. Mas o certo é que, quando alterada, vai causar modificações na saúde humana
Perda de peso
A nutricionista da Estima Nutrição, especializada em nutrição clínica esportiva e vigilância sanitária, Edvânia Soares conta que o intestino é responsável pela produção de neurotransmissores (levam as informações para as células) e hormônios que influenciam diretamente no bem-estar do indivíduo e no peso.
‘Se você tem uma irritação intestinal, você tem muito mais evacuações, então automaticamente você perde peso’, conta a especialista.
Além disso, a diminuição da produção de neurotransmissores também implica na forma com que a pessoa lida com os quilos a menos, já que quando eles ‘não são produzidos e nem equilibrados, a pessoa pode ter mais indisposição’.
‘Essa comunicação [entre cérebro e intestino] é essencial para controlar a nossa fome, a nossa saciedade, a produção de vários hormônios intestinais, interfere diretamente no nosso metabolismo, faz a gente comer mais, comer menos, ganhar peso, perder peso’, diz Barbuti
Falta de vitamina
É no intestino que o nosso corpo absorve diversos nutrientes e gorduras – boas e ruins. As proteínas são absorvidas no estômago, mas também passam pelo intestino.
‘As vitaminas A, C, E, D, K, vitaminas do complexo B, alguns minerais, como o ferro, cálcio, magnésio, zinco, são absorvidos no intestino delgado. Quando você pensa em absorção nutricional, temos mais disposição, mais energia, mais vitalidade, porque está nutrindo o teu corpo’, conta Edvânia.
A diminuição da absorção pode levar a uma deficiência de nutrientes. Isso ocorre quando as microvilosidades intestinais (aumentam as superfícies de absorção) têm rompimentos que dificultam tanto a retenção de nutrientes, quanto a digestão e secreção de líquidos, por exemplo.
‘Quando o intestino não está, de uma certa forma, saudável, a gente começa a ter falta de nutrientes, então geralmente ele vai ter sim déficit nutricional, isso é natural’, alerta a nutricionista
Anemia
Para algumas pessoas, a anemia está associada à má alimentação. Porém, vale ressaltar que ela é causada por diversos fatores e não é uma doença, mas sim um sintoma, uma forma do corpo humano avisar que está com um problema, por exemplo, no intestino.
‘O glúten interfere na absorção do ferro, porque o glúten é uma porção insólida do trigo, e quando você pega, por exemplo, um paciente celíaco e ele acaba consumindo muito glúten, ele não absorve os nutrientes’, informa Edvânia.
E acrescenta: ‘Ele começa a não absorver o ferro porque começa a não dar essa prioridade da absorção, então a pessoa pode sim, não falo de apenas um celíaco, mas uma pessoa que tem uma irritação intestinal ou não está com total absorção, pode levar a uma anemia’
Ansiedade
A nutricionista também explica que boa parte da serotonina, de 80% a 90%, é produzida no intestino. Isso ocorre porque uma saúde intestinal proporciona ‘sensação de bem-estar, de leveza e de felicidade’.
Porém, quando há alguma alteração, pode interferir diretamente no humor do indivíduo. A depressão está entre os quadros que podem ser desenvolvidos, assim como a ansiedade.
‘Quando a gente tem uma constipação, por exemplo, a pessoa tem mau humor também, irritabilidade, nervosismo e ansiedade. Nosso intestino é uma barreira imunológica, é um produtor de um hormônio da felicidade, ele vai diminuir a propensão de várias doenças’, explica Edvânia.
Barbui complementa que os dois quadros ocorrem porque ‘o que acontece no intestino interfere diretamente nas nossas funções cerebrais’
Doença de Parkinson
Ricardo Barbuti explica que os seres humanos vivem um regime conhecido como eubiose, que é definido como um estado de saúde. Quando a combinação de microorganismos do intestino sofre alguma alteração, começa a disbiose.
Essa instabilidade traz repercussões negativas no intestino, e fora dele. Barbuti diz que ‘são vários os trabalhos que mostram a relação direta entre o que acontece no intestino e doenças neurológicas e psiquiátricas, como a doença de Parkinson’.
Um estudo publicado na revista iScience e realizado por pesquisadores brasileiros mostrou que a microbiota intestinal (microorganismos que habitam o trato gastrointestinal) influencia, por exemplo, o neurodesenvolvimento.
Os cientistas constataram que há uma maior abundância da bactéria Akkermansia muciniphila em amostras fecais de pacientes com a doença de Parkinson, quando comparados ao grupo-controle.
A partir disso, eles concluíram que a disbiose intestinal pode levar ao aumento dessa bactéria, que contribui para a agregação de uma proteína sabidamente relacionada com o Parkinson (αSyn), e que pode, posteriormente, migrar para o sistema nervoso central – possível meio para o surgimento da doença de Parkinson esporádica
Diante das condições causadas por alterações intestinais, é imprescindível se atentar aos sinais de que algo está errado. Os primeiros sintomas, segundo Edvânia, podem ser distensão abdominal, língua branca, alteração de humor, inchaço e fadiga.
No caso das crianças, quando elas começam a rodar muito no berço em sentido horário e suar excessivamente, é um sintoma de intolerância alimentar. O sentido horário é como o intestino funciona, então a criança, pela inércia, se move na cama.
Já para os adultos, aqueles que suam excessivamente à noite, mexem-se muito na cama e tem quadros de confusão mental, como o esquecimento de algumas palavras, devem investigar alguma intolerância alimentar.
Por fim, a nutricionista esclarece que a escala de Bristol é uma forma de perceber se a forma das fezes humanas está correta, pois ‘quando ela começa a ser fragmentada e não termina com aquela pontinha, isso é uma atenção que você precisa ter para o seu intestino’.
É sempre válido dar importância para os sinais dessa parte do corpo, já que com ‘você mais nutrido, o intestino funcionando, tem muito mais saúde, bem-estar, longevidade e felicidade’.
*Estagiária do R7 sob supervisão de Fernando Mellis