Desaceleração e Inflação: economistas divergem sobre números
Em meio a um cenário de aperto monetário, economistas divergem sobre a intensidade da desaceleração econômica em 2025 necessária para a reduzir a inflação, e, consequentemente, da taxa de juros. As previsões do Ministerio da Fazenda para o crescimento do PIB para 2025 estão em 2,5%, redução de 1 ponto percentual em relação a 2024. Mas o recuo pode não ser suficiente.
O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) é importante para nortear a política monetária do Banco Central (BC). Quando a economia está aquecida, crescendo acima de seu PIB potencial – capacidade da economia crescer sem pressionar os preços, a pressão inflacionária aumenta. É o que se chama em economia hiato do produto positivo.
No caso de uma desaceleração da economia forte, suficiente para o PIB crescer menos do que o seu potencial, o hiato se reduz. Em resumo, os juros só podem baixar quando a equação se equilibra e a inflação dá sinais de arrefecimento.
Atualmente, só há convergência sobre a existência de um superaquecimento econômico, observado nos níveis de desemprego baixo e da Utilização da Capacidade Instalada (NUCI) elevada, que têm contribuído para o crescimento do PIB do país acima do seu potencial.
Sobre a desaceleração necessária, os números divergem, já que o cálculo sobre o grau de desaceleração necessário depende do valor do próprio potencial.
Levantamento feito pelo Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) comparou os cálculos de PIB potencial da Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda, do Banco Central, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e da Fundação Getúlio Vargas (FGV/Ibre), demonstrando que as previsões estão longe de consenso. As metodologias e os resultados são distintos.
A SPE estima um PIB potencial de 2,4% em 2023 e de 2,3% em 2024, conforme a série histórica. O Banco Central usa uma estimativa de 3,1% para 2023 e de 2,4% para 2024. A previsão é feita com base nos dados de hiato do produto apresentados no último Relatório Trimestral de Inflação (RTI), já que o BC não divulga o valor do PIB potencial.
A FGV/Ibre, por sua vez, estima um potencial em 0,65% em 2023 e 0,63% em 2024. Os cálculos são dos economistas Elisa Andrade e Cláudio Considera, divulgados no blog da instituição. Já a OCDE, conforme relatório publicado em dezembro do ano passado, estima 1,8% em 2023 e 1,9% em 2024.
Em todos os parâmetros, o crescimento do PIB em 2024 supera o PIB potencial. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, já manifestaram preocupação, concordando que o país precisa reduzir esse nível de crescimento para algo em torno de 2,5%. Nesta semana, a SPE revisou a projeção para o PIB de 2025 de 2,5% para 2,3%.
A Fazenda tem tentado influenciar as expectativas cravando um PIB potencial alto, de 2,5%. Neste caso, bastaria desacelerar o crescimento nesta proporção faixa para que a inflação arrefeça.
Para o economista Marcos Mendes, no entanto, isso está longe de ser garantido e ainda serão necessárias medidas de aperto fiscal. “Há grande dispersão nas estimativas de quanto o PIB pode crescer sem pressionar preços”, disse ao Broadcast. “E com as expectativas desancoradas e a preocupação generalizada com a trajetória da dívida, provavelmente será necessário dar um freio mais forte na atividade, tanto para reforçar a credibilidade do Banco Central, quanto para reancorar as expectativas.”