“Fogo contra Fogo” colocou Al Pacino de frente com Robert De Niro



É difícil pensar em atores mais competentes do que Al Pacino e Robert De Niro. Ambos têm uma filmografia repleta de incríveis performances em obras clássicas – e aí podemos citar Scarface e Um Dia de Cão para falar de um e Taxi Driver – Motorista de Táxi e Os Bons Companheiros para falar de outro.

A primeira vez que os dois estiveram no mesmo filme foi em O Poderoso Chefão – Parte 2, de 1974, mas eles não se encontraram em nenhuma das cenas, pois seus personagens pertencem a momentos diferentes da história. Desde então até meados da década de 1990, a interação da dupla tornou-se um dos sonhos mais aguardados por cinéfilos. E ela não decepcionou quando finalmente aconteceu em Fogo contra Fogo, recém-estreado no streaming (Mubi e HBO Max).

No longa-metragem, dirigido e roteirizado por Michael Mann, Pacino e De Niro interpretam o investigador Vincent Hanna e o bandido Neil  McCauley, respectivamente. Enquanto o primeiro é um policial obstinado e, por vezes, até surtado, o segundo é um assaltante especializado, direto e metódico. Para os dois atores, foi a oportunidade de explorarem o que têm de melhor com suas caras e bocas.

O filme mastodôntico, com quase três horas, pode ser dividido em três partes: a apresentação de seus personagens, o assalto agitado a um banco e uma caçada policial em seu final. A duração por vezes faz o longa se arrastar em algumas cenas, mas são nesses momentos que alguma  reviravolta surpreende quem assiste.

Admiração mútua  

Enquanto McCauley planeja o grande roubo com sua equipe (e se apaixona por uma mulher), o detetive Hanna luta para acompanhar a atividade dos criminosos e, ocasionalmente, dar um pouco de atenção à sua terceira esposa. Nesse trajeto, percebemos como os dois personagens distintos têm bastante em comum. Eles parecem seguir um código de conduta próprio e lutar para equilibrar suas vidas pessoais com o trabalho (entre aspas, no caso do bandido).

O policial, por exemplo, não se furta de interagir com criminosos para conseguir informações sobre seu principal alvo. Enquanto isso, McCauley segue à risca o seu lema: “não se apegue a nada que você não esteja disposto a abandonar em 30 segundos se sentir o calor chegando.”

A semelhança fica evidente quando, depois de mais de uma hora de filme, De Niro e Pacino finalmente se encontram cara-a-cara. O diálogo é uma das passagens mais tensas de Fogo contra Fogo. Eles escancaram  a admiração de um pelo outro e fazem o espectador se questionar sobre a moralidade dos personagens. Afinal, um detetive verdadeiramente correto não perderia tempo numa conversa ególatra com um criminoso.

A história de Mann ressalta que os protagonistas são imperfeitos ao expor a relação de cada um com suas amadas. Como bem sintetiza a personagem Justine, esposa do detetive Hanna, durante uma conversa com ele, “você se torna tudo aquilo que está perseguindo”. Ao escantear sua moral para capturar o ladrão, ele abandona até sua afilhada no hospital. Quem assiste ao filme fica sem saber o que acontece com a pobre menina, interpretada por Natalie Portman no começo de sua carreira.

Com essa crítica, o roteirista beira a total relativização do papel do detetive, que não deixa de ser um herói apesar de seus defeitos. Mas esse  problema é consertado na sequência derradeira, que não poupa o fora-da-lei interpretado por De Niro, reforçando quem era de fato o vilão.

Novo embate dos gigantes?  

Mesmo com um final de tirar o fôlego, Fogo contra Fogo ficou com algumas pontas soltas, que permitiram conjecturas sobre uma continuação. E ela está cada vez mais próxima de se tornar realidade. Mann lançou no ano passado, em parceria com a autora Meg Gardiner, o livro Heat 2: a Continuação Inédita do Filme “Fogo contra Fogo”, publicado pela editora Harper Collins no Brasil.

Em suas quase 500 páginas, a obra expande McCauleye Hanna, investigando seus passados e deixando algumas de suas motivações ainda mais claras. O livro também relata o que aconteceu no dia seguinte ao assalto ao banco, acompanhando principalmente o personagem Chris  Shiherlis, interpretado no filme de 1995 por Val Kilmer.

Mann declarou que está satisfeito com o livro, mas que toparia dirigir uma continuação, segundo entrevista para a Variety – na Deadline, saiu até que Adam Driver faria a versão jovem de McCauley. Porém, essa tarefa depende do sucesso de seu atual projeto para os cinemas: a cinebiografia  Ferrari. O trabalho conta a história da montadora de Enzo Ferrari, interpretado por Driver, e tem previsão de chegada aos cinemas brasileiros marcada para o primeiro trimestre de 2024.



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