“Futurama” volta zombando da geração do streaming e das criptomoedas
Um jovem de vinte e tantos anos que não quer pegar no batente e prefere passar o dia todo “zapeando” por programas televisivos. Essa descrição poderia resumir o estilo de vida de alguém da geração Y ou Z. Mas ela também é um perfeito resumo de Philip J. Fry, o personagem principal da animação Futurama, que ganha uma nova temporada na Star+, após uma década fora do ar.
Criado em 1999 por Matt Groening, a mente por trás de Os Simpsons, o programa acompanha em cada episódio as aventuras de uma empresa de entregas nos anos 3000, um futuro recheado de robôs, alienígenas e tecnologias estúpidas. Diferentemente da série com Homer e sua família, que já não tem tanta graça após mais de 30 anos no ar e exibe diversos episódios com temática woke, Futurama chega à 11ª temporada reconstruindo sua relevância, além de trazer amadurecimento para seus personagens – alguns até têm filhos!
Logo no primeiro capítulo, Fry decide que cansou de ser um jovem adulto sem futuro e precisa construir algo significativo para a sua vida. A escolha dele: tornar-se o humano a ficar mais tempo maratonando uma série. É claro que essa premissa abre espaço para muitas críticas à cultura de consumo em massa de conteúdos em streaming que vivemos atualmente. Afinal, quem não tem um amigo ou conhecido que já confidenciou ficar mais de seis horas no sofá vendo a temporada final de alguma série?
Há diversos momentos em que a animação faz piada consigo, especialmente pelo fato de já ter sido cancelada duas vezes por outras emissoras. Essa pegada mais autocrítica fica evidente quando, mais à frente, Fry desiste de seu “sonho” pela queda na qualidade do roteiro da série que estava maratonando e por vontade de ver outras coisas. Aproveita-se o ensejo para brincar também com a maneira como empresas de conteúdo decidem quais produtos serão renovados ou encerrados. Futurama apresenta robôs como executivos, tomando suas decisões baseadas em algoritmos, sem transparência e de maneira automática.
Groening escaldado
Ao longo dos quatro capítulos já disponíveis, de um total de dez, Groening e seu time de roteiristas provam que aprenderam com os erros do passado e souberam escrever histórias mais cativantes, engraçadas e modernas, agradando tanto aos fãs quanto a quem não viu todos os capítulos das temporadas anteriores.
As piadas com o mundo contemporâneo chegam ainda mais fortes no terceiro episódio, em que os protagonistas estão endividados e vão a uma espécie de Velho Oeste para minerar criptomoedas. A volatilidade de moedas como bitcoin e ethereum são apontadas por personagens e rendem boas risadas ao espectador bem-informado sobre o tema. Trocadilhos bestas e pequenas referências a filmes como 2001 e Duna elevam a experiência do espectador atraído pela estética futurista e de ficção científica que sempre deu charme à animação.
Numa época em que todo desenho tenta envolver política e pautas progressistas, Futurama é uma ótima pedida para quem quer fugir disso e só assistir a um desenho adulto, divertido e descompromissado. Não por acaso, a animação já foi renovada para uma 12ª temporada com mais dez capítulos. Resta ver se a qualidade será mantida ou se derrubarão a barra como fizeram em anos anteriores.