Governo do Irã anuncia fim da polícia ‘moral’


O governo do Irã aboliu a polícia “moral” do país. A instituição, criada em 2005, foi duramente criticada nos últimos meses pelas prisões de mulheres jovens que não se vestiam de acordo com os costumes do país. O anúncio do fim da entidade foi feito, no sábado 3, por Mohamad Jafar Montazeri, procurador-geral iraniano.

“As mesmas pessoas que criaram a polícia da moralidade a desmantelaram”, declarou o procurador. “A instituição não tem nada a ver com o poder judicial.”

Conforme Montazeri, o poder Judiciário do país vai continuar fiscalizando o comportamento “em nível comunitário”. Além disso, o procurador acrescentou que as vestimentas femininas adequadas continuam importantes.

No sábado, o Conselho de Segurança do Irã informou que mais de 200 pessoas morreram em razão dos protestos que acontecem no país. No entanto, a ONG Iran Human Rights estimou quase 450 mortes.

O governo local acusa os países ocidentais de incentivarem a onda de manifestações que tomou conta do Irã depois da morte da jovem Mahsa Amini, de 22 anos. A moça foi presa em setembro deste ano pela polícia “moral” por uso impróprio do hijab, o véu islâmico.

Irã inicia revisão da lei do véu

Na quinta-feira 1°, autoridades iranianas anunciaram a revisão da lei que há décadas exige o uso de hijab para mulheres. A possível reformulação no texto surge como uma tentativa de amenizar a onda de protestos que abala o país desde setembro, com a morte de Mahsa.

“Na quarta-feira 30, tivemos uma reunião com o Comitê de Cultura do Parlamento e veremos os resultados da revisão dentro de uma ou duas semanas”, disse Montazeri, em um discurso.

Após a Revolução de 1979, que abriu espaço para um regime teocrático, a lei no Irã passou a afirmar que mulheres são obrigadas a cobrir os cabelos com o véu e usar roupas largas para encobrir o formato de seus corpos. Aquelas que descumprem a norma enfrentam repreensões públicas, multas e mesmo a prisão.

O Irã vive a maior onda de protestos no país desde 2009 — na Primavera Árabe. Neste ano, milhares de pessoas estão nas ruas a favor dos direitos das mulheres iranianas. O estopim foi a prisão e morte de Mahsa.

A jovem foi detida em Teerã, capital do país, por supostamente violar as regras do uso do véu islâmico. Os policiais alegaram que Mahsa sofreu um ataque cardíaco durante a prisão, para que, nas palavras dos agentes, fosse “convencida e educada”. Eles negaram que ela tenha sido agredida.

Ativistas, no entanto, afirmam que a abordagem policial em casos do tipo tem sido violenta, muitas vezes com uso de espancamento contra as mulheres. A menina ficou em coma, não resistiu e morreu.

O primeiro grande protesto aconteceu depois do funeral de Mahsa, na cidade de Saqqez, no Oeste do Irã. De lá para cá, muitas mulheres assumiram o protagonismo e passaram a andar com a cabeça descoberta.





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