“Grease” retrata uma juventude transviada que já se perdeu no tempo
É impossível iniciar este texto sem revelar meu próprio testemunho: quando Grease: Nos Tempos da Brilhantina foi lançado, em 1978, eu tinha apenas 10 anos de idade e, sendo assim, não pude ver o filme no cinema. No entanto, comentários circulavam por todos os cantos e, para minha sorte, as TVs exibiam reportagens com algumas poucas cenas que me faziam construir o filme inteiro na cabeça. Além disso, as canções da trilha sonora não paravam de tocar em todas as rádios. Apaixonado pelas músicas, pedi ao meu pai a trilha de presente. E ele me deu: uma fita-cassete que sobreviveu por mais de uma década, tendo se desgastado com o tempo de tanto tocar.
Tudo isso me fez entender o porquê do enorme sucesso do filme, a maior
bilheteria na história para um musical, ultrapassando A Noviça Rebelde; e também da trilha sonora, o segundo álbum mais
vendido em 1978, nos Estados Unidos, perdendo somente para a trilha sonora de Os Embalos de Sábado à Noite,
coincidentemente também estrelado por John Travolta.
Não me recordo quanto tempo levou para que eu conseguisse assistir ao
filme, tampouco se foi na televisão ou em VHS. O importante é que, mesmo já me
sentindo íntimo da história e dos personagens, o impacto da obra e suas
contagiantes sequências musicais e de dança até hoje fazem parte do meu
imaginário – mesmo que um olhar mais atualizado, após alguns milhares de filmes
assistidos, mostre que o argumento seja ligeiramente infantil.
A história começa no verão de 1959, quando um grupo de jovens se
encontra de férias numa praia da Califórnia. O americano Danny (John Travolta)
é um rapaz descolado, meio metido até, que acaba seduzido pela tímida e
comportada australiana Sandy (Olivia Newton-John). Os dois se apaixonam, mas
ambos sabem que há uma data de validade: as férias vão acabar e cada um tomará
seu caminho. Mas aí vem o destino: Sandy continua nos Estados Unidos e vai
estudar na mesma escola de Danny. É quando a moça descobre que ele, além de
líder de uma gangue que usa jaquetas de couro, aposta corrida de carros e sai
com todas as garotas, é o carinha mais popular da escola. Danny está
apaixonado, quer ficar com a garota, mas não pode decepcionar os amigos da
gangue sendo tão passional e assim cair em descrédito. Sandy também não quer
largar o bonitão, mas não pode frustrar a família, que vê nela uma jovem
estudiosa, de bom comportamento e um futuro garantido.
Esses são apenas alguns dos dilemas enfrentados por essa juventude transviada retratada em Grease (disponível no streaming do Paramount+, Apple TV+ e Google Play). Mas trata-se de uma época distante em que as maiores transgressões eram namorar a garota no banco de trás do carro e levantar o dedo do meio para alguém. E como estamos diante de um filme musical, cada dilema ou obstáculo é pontuado justamente por uma sequência musical em que cada canção traz nas letras os medos, os desejos, os sonhos, o romantismo daquela geração. Tudo realizado com excelente coreografia, malabarismos, muitas cores e sensualidade.