Inovação, um antídoto para os desastres naturais


Nesta reportagem, AMANHÃ lista inovações ao redor do mundo que já estão conseguido amenizar – ou mesmo precaver – os diferentes fenômenos meteorológicos extremos. (Foto: BASF/Divulgação)

As enchentes que colocaram o Rio Grande do Sul debaixo da água a partir de maio foi um dos 40 maiores desastres naturais do país. Muitos especialistas afirmam que a tragédia poderia ter sido evitada pelo uso de tecnologias, a exemplo das chamadas esponjas urbanas – muito comuns na China, Japão, Coreia do Sul e Singapura. “Com isso você restaura a vegetação em todas as margens de rios e também nas encostas isso acaba sendo uma solução para esse problema”, explica o professor e climatologista Carlos Nobre. “Quando você restaura a vegetação urbana, essa esponja além de reter mais água impede a erosão, a formação de lama, também baixa a temperatura, aumenta a umidade, mantém aquele microclima embaixo da vegetação muito melhor para o corpo humano e também as árvores nas cidades podem remover 20 a 30% dos poluentes”, completa. Nesta reportagem, AMANHÃ lista outras inovações ao redor do mundo que já estão conseguido amenizar – ou mesmo precaver – os diferentes fenômenos meteorológicos extremos. Confira.

Concreto sustentável

Segundo dados do World Green Building Council, os edifícios são responsáveis por quase 40% das emissões globais anuais de gases com efeito de estufa – e a estimativa é de que a quantidade de prédios existentes no mundo duplique até 2060. Com isso, o carbono emitido pela fabricação de materiais de construção, como o concreto, será responsável por quase metade das emissões de carbono nas próximas três décadas. A CarbonCure, do Canadá, surge justamente para reduzir essa pegada de carbono, desenvolvendo o método de injeção de CO₂ em concreto fresco. Uma vez injetado, o CO₂ capturado reage com a mistura do concreto e se torna um mineral que fica permanentemente incorporado, não retornando à atmosfera. A mineralização de CO₂ na mistura também permite a otimização do concreto, tornando-o mais forte e resultando em benefícios econômicos além dos climáticos.

Costas protegidas
A BASF, da Alemanha, desenvolveu um sistema de proteção costeira feito de um material novo e extremamente eficaz. O chamado Elastocoast® é feito da junção de pedra britada a plástico de poliuretano ambientalmente compatível, o que resulta em um material extremamente durável, forte e, portanto, seguro contra ondas e marés altas. Graças a isso, blocos de Elastocoast® podem ser aplicados em diques, quebra-mares e outras linhas costeiras marinhas e de água doce. Com um sistema capaz de distribuir a energia das ondas por uma área maior, a solução reduz a pressão da água na superfície, gerando menos estresse sobre o revestimento. Comparada a uma superfície selada, que reflete completamente a força destrutiva das ondas, a superfície porosa absorve parte da energia hidráulica através do atrito no volume dos poros e eventualmente a converte em energia térmica. Como resultado, as massas de água atingem uma subida menor das ondas, com menos energia hidráulica, o que reduz o potencial de danos em áreas costeiras com o possível aumento das marés, por exemplo.

Ar realmente puro
Para contornar as alterações da qualidade do ar causadas pelas mudanças climáticas, a suíça IQAir desenvolve sistemas de purificação de ar. Capazes de filtrar mais de 99,5% dos poluentes em ambientes internos, eles garantem a eliminação de produtos químicos tóxicos provenientes da poluição atmosférica e da fumaça de incêndios florestais, por exemplo, que podem acabar entrando nas residências. Além dos purificadores, a IQAir opera a maior rede mundial de monitores de qualidade do ar, com mais de 30 mil dispositivos do tipo em todo o mundo. Eles são capazes de rastrear dados de poluição atmosférica em tempo real, que são tornados públicos através da plataforma AirVisual – uma ferramenta gratuita onde é possível conferir dados e previsões de qualidade do ar. “Acreditamos que a lida com as alterações climáticas começa com o conhecimento. Ao terem acesso a dados sobre a qualidade do ar em tempo real, as pessoas conseguem fazer as mudanças necessárias para se adaptarem à severidade das alterações climáticas”, afirmou a empresa em entrevista à redação de AMANHÃ.

De uma árvore à floresta inteira
A alemã OroraTech utiliza dados de mais de 20 satélites para avaliação de risco, detecção precoce, monitoramento em tempo real e análise de danos de incêndios florestais. Fundada em 2018, na cidade de Munique, a alemã conta com uma rede de sensores que monitora constantemente a temperatura da Terra em escala global. Em apenas três minutos, a tecnologia da OroraTech é capaz de alertar os clientes caso estejam em zonas de risco, permitindo que ações rápidas sejam tomadas para proteger bens materiais e a vida. O monitoramento é feito em tempo real, permitindo a detecção de incêndios de qualquer tamanho, inclusive de uma única árvore. A solução da empresa alemã já é utilizada por clientes em seis continentes, desde empresas comerciais até organizações governamentais.

Precisão certeira
Sensores, como o sistema DART, combinam uma boia de superfície e um sensor no fundo do oceano. O aparelho detecta mudanças na pressão da água e na atividade sísmica e transmite os dados de volta à superfície. Se essas mudanças indicarem a possibilidade de formação de um tsunami, a boia sinaliza um alerta via satélite para os centros de alerta de tsunami no Alasca e no Havaí. Os sensores também são essenciais para sistemas de drenagem urbana sustentável. Eles incorporam infraestruturas verdes como jardins de chuva e pavimentos permeáveis, reduzem o escoamento e mitigam inundações, tudo monitorado por meio de sensores e análise de dados. “Atualmente os sensores estão cada vez mais precisos para tentar prever com mais antecedência os desastres climáticos e uma série de medidas preventivas”, atesta Fernando Onosaki, sócio da IXL-Center e embaixador do GIMI no Brasil.

Plantas resistentes à seca
A seca é outro desastre dos fenômenos climáticos extremos. Como uma forma de manter a produção no campo, estão sendo desenvolvidas plantas resistentes à seca, como tecnologia desenvolvida por um grupo de pesquisas liderado pelo professor Marcelo Menossi do Instituto de Biologia da Unicamp envolve uma manipulação genética que confere maior tolerância à cana frente a períodos de escassez de água. “Nós procuramos descobrir que modificação poderíamos fazer na planta para que, quando chegasse o período de seca, ela não sofresse tanto”, explica Menossi. As plantas modificadas contêm em suas células um gene de cana-de-açúcar cuja expressão aumentada torna a planta mais resistente à escassez de água. uma das consequências do estresse hídrico é a diminuição da capacidade da cana de fazer fotossíntese, ou seja, a capacidade de produzir açúcar a partir da luz do sol e do gás carbônico da atmosfera. Os pesquisadores fizeram uma modificação num dos genes envolvidos nesse mecanismo de proteção e, com isso, a planta consegue se manter saudável e com uma maior taxa de sobrevivência mesmo em condições adversas como as da seca. A nova tecnologia tem ainda potencial para ser estendida a outros cultivos. Testes iniciais já foram realizados em tabaco, por exemplo. 

Este conteúdo foi originalmente publicado na edição 347 de AMANHÃ. Acesse a íntegra da revista clicando aqui (mediante cadastro gratuito).





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