Lula elogia gestão de Gustavo Pimenta na Vale
Após tentativas de interferir no processo de sucessão no comando da Vale, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) elogiou os rumos da companhia sob a gestão de Gustavo Pimenta. Em discurso durante evento da mineradora nesta sexta-feira (14), o mandatário disse acreditar que o “clima desagradável” estabelecido com a gestão anterior está superado.
“Houve um fio desencapado que criou um clima desagradável, em que o governo não se sente representado, que o governo acha que a empresa não faz tudo que deveria fazer, a empresa descontente porque o governo fala mal da empresa”, disse o presidente. “E esse fio desencapado, Pimenta, com a minha volta ao governo e sua entrada na Vale, eu tenho certeza que vamos encapar esse fio e não vai ter mais ruído daqui para frente.”
O executivo assumiu o cargo em outubro do ano passado em substituição a Eduardo Bartolomeo, criticado pelo governo por seu perfil mais técnico e menos afoito a interlocuções com o Planalto.
Antes do término do mandato de Bartolomeo, em maio do ano passado, o governo chegou a pressionar para emplacar o ex-ministro Guido Mantega na presidência. A interferência foi amplamente criticada, já que a Vale tem um modelo de “corporation” regida por normas de compliance e governança corporativa.
Pimenta, que era o diretor responsável pela área financeira e de relações com investidores, foi uma solução caseira para apaziguar as disputas internas, após um racha no Conselho de Administração na decisão pela renovação ou não do mandato do antigo CEO.
Vale volta a investir em Carajás
As declarações foram feitas num evento em que a Vale anunciou investimentos de R$ 70 bilhões na expansão da mineração de ferro e cobre em Carajás, no município de Parauapebas, no sul do Pará, entre 2025 e 2030.
O projeto, batizado Programa Novo Carajás, apesar do volume expressivo, mantém a disciplina de investir o mínimo possível em empreendimentos considerados como rentáveis por investidores e analistas de mercado, conforme prevê seu planejamento estratégico, apresentado em dezembro de 2024.
Na gestão anterior, as declarações públicas de Lula tinham tom de cobrança por mais aportes da mineradora em grandes empreendimentos. Desde 2016, após a expansão da produção de minério de ferro no complexo de Carajás, a Vale reduziu investimentos, principalmente por conta dos rompimentos das barragens de rejeitos de mineração em Mariana, em 2015, e Brumadinho, em 2019.
Lula defende alinhamento com o governo
No discurso, o mandatário voltou a defender o alinhamento entre os interesses da empresa e do governo, reiterando sua crença em um “Estado indutor” do crescimento econômico. Lula ainda reforçou suas críticas à pulverização do controle acionário da Vale, privatizada há 26 anos, que reduziu a influência do governo sobre a empresa:
“É diferente para o sindicato manter relações, para o governo manter relações, porque cachorro de muito dono morre de fome, porque todo mundo pensa que todo mundo colocou comida, mas ninguém botou”, disse Lula, repetindo o argumento já usado em outubro do ano passado.
Em entrevista aos jornalistas, após o lançamento do programa, Pimenta foi questionado se a Vale estava mudando os planos de investimento para agradar ao governo. O executivo disse que a Vale não “mudou seu caminho”, mas tem dedicado mais tempo a “explicar um pouco a nossa estratégia” ao governo.
“A gente dá mais clareza aquilo que, para gente, estrategicamente, é importante. Acho que a gente acelera algumas agendas, como, por exemplo, o crescimento de cobre, que é uma agenda super importante”, afirmou o executivo. “É uma combinação de fatores, incluindo uma pauta talvez mais propositiva de aceleração de alguns desses temas, mas não muda o caminho que a gente vinha seguindo.”