O estado que fatura R$ 154 bilhões na indústria de alimentos



A indústria brasileira de alimentos e bebidas se consolidou como um dos pilares da economia nacional e como fornecedor de alimentos nutritivos e de alta qualidade para o mercado externo. Dados da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos e Bebidas (Abia) apontam que, no último ano, o setor faturou mais de R$ 1,16 trilhão no cenário nacional, um crescimento de 7,2% em relação ao período anterior.

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Essa força se traduz em 250 milhões de toneladas de alimentos produzidos anualmente, abastecendo, além do Brasil, 190 países e garantindo 1,97 milhão de empregos diretos. Para além dos números, a indústria de alimentos se destaca pela qualidade, inovação e responsabilidade socioambiental, avalia o diretor-presidente da Abia, João Dornellas. Nesse recorte, um destaque está na indústria de alimentos do estado do Paraná.

Com um faturamento de R$ 154 bilhões em 2023 – 13,3% da fatia nacional – a indústria de alimentos no Paraná foi a segunda maior entre os polos produtores no Brasil, atrás do estado de São Paulo (R$ 282 bilhões). Com uma agropecuária de referência, o estado se certificou como um gigante do setor, exportando produtos para quase duas centenas de países e alimentando o mundo com qualidade e sabor.

A diversidade climática e o solo paranaense propiciam o cultivo de uma ampla variedade de culturas: é o o primeiro produtor nacional em produção avícola; o segundo maior em grãos (soja e milho) – atrás do estado do Mato Grosso -, em leite – atrás de Minas Gerais – e em suínos, logo depois de Santa Catarina.

A diversificação garante a oferta de produtos para os mercados interno e externo, impulsionando o desenvolvimento regional e gerando renda para milhares de famílias. A indústria de alimentos paranaense se caracteriza pela constante busca por inovação e tecnologia, conforme destaca o coordenador do ramo Agropecuário da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), João Preito.

“Os investimentos são distribuídos entre pesquisa e desenvolvimento para aprimorar processos, aumentar a produtividade e oferecer produtos cada vez mais saudáveis e saborosos”, afirma ele, para quem a postura inovadora promove a competitividade do estado no mercado global e contribui para a construção de uma indústria alimentícia sustentável. Nesse processo, as cooperativas são destaque, evidencia o especialista.

Paraná tem faturamento maior que regiões inteiras do
Brasil

O faturamento registrado no último ano pelo estado do Paraná é superior ao total obtido pela região Nordeste, cujos nove estados movimentaram R$ 115 bilhões em negócios. O valor – R$ 154 bilhões – também é três vezes mais que o do Norte do Brasil – R$ 53 bilhões.

No recorte da região Sul, o Paraná é seguido pelo Rio Grande do Sul – com R$ 107 bilhões – e Santa Catarina – com R$ 76 bilhões. “Se precisar aumentar produção amanhã, se tiver demanda, a gente consegue sem dificuldades porque temos capacidade nas nossas indústrias”, afirma o presidente da Abia.

Ele defende a a abertura de novos mercados e mais acordos comerciais. “Estrutura, vontade e determinação para esse aumento nós temos”, reforça. Atrás dos números, há uma cadeia produtiva dinâmica que emprega quase 1,2 milhão de paranaenses, sendo 224 mil empregados diretos e outros 966 mil de forma indireta, influenciando o tecido socioeconômico do estado.

Com 3,4 mil unidades de produção distribuídas por 399 municípios, a indústria de alimentos e bebidas do Paraná não só coloca a comida na mesa dos próprios paranaenses, mas alcança todos os continentes, respondendo por uma fatia de 25% do Produto Interno Bruto (PIB) estadual, que somou R$ 665,65 bilhões no último ano.

“Nenhuma região do Brasil e na América do Sul consegue produzir tanto por metro quadrado como o Paraná, em quantidade, em variedade e industrialização da produção do que vem do campo. Esse tem sido o diferencial do nosso estado com exportações crescentes, somos um grande supermercado do mundo”, enaltece o governador Carlos Massa Ratinho Junior (PSD).

Para além da dinâmica do setor, os dados demonstram seu potencial transformador e importância estratégica para o desenvolvimento regional. “Nosso principal objetivo é a transformação de alimentos e agregar valor. O grande número de indústrias da transformação indica a capacidade e o potencial em transformar o milho e a soja em ração animal e, em vez de vender in natura, como commodity, vendemos a carne transformada, com agregação de valor, geração de emprego e de renda”, afirma o presidente do Programa Oeste em Desenvolvimento (POD), Rainer Zielasko.

O órgão está na região do estado que concentra cinco das dez maiores cooperativas do agro do Brasil, referência em produção e exportação de proteína animal. O desenvolvimento regional, fomentado pela indústria alimentícia, levou ao entorno uma condição de pleno emprego.

“O que nos falta são pessoas a serem contratadas: mantemos cerca de 12 mil vagas de empregos abertas e não conseguimos preenchê-las. Necessitamos de profissionais para mantermos a evolução e o crescimento da indústria que alimenta o mundo”, completa o industrial.

Os empregos gerados pelo segmento representam uma parcela significativa na cadeia formal, correspondendo a 34% do total das carteiras assinadas na indústria do estado. Exerce um papel crucial na integração da produção agropecuária, com 65,3% da matéria-prima adquirida diretamente do campo, fortalecendo a economia rural e a cadeia produtiva agrícola paranaense.

“Temos capacidade técnica, de qualidade e com segurança sanitária para expandir produção, principalmente no setor de suinocultura com a abertura de novos mercados como o canadense, o sul-coreano, o japonês, o mexicano, o chileno. O Paraná é uma referência produtiva na indústria de alimentos e nos mantemos em expansão”, destaca o ex-secretário da Agricultura e Abastecimento do Paranáe atual secretário estadual da Fazenda, Norberto Ortigara.

Outro aspecto marcante é a contribuição para as relações comerciais, com as exportações do setor tendo totalizado US$ 8,9 bilhões em 2023, próximo de R$ 44,5 bilhões. Todos os segmentos somados exportaram no estado US$ 25,3 bilhões (R$ 124,8 bilhões).

“Esse montante não apenas fortalece a balança comercial do estado, mas projeta a qualidade e competitividade dos produtos alimentícios paranaenses nos mercados internacionais, reforçando sua posição como um importante player no cenário global da indústria de alimentos”, acrescenta Ortigara.

Governo federal prevê abertura de mercados para a indústria de alimentos

O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Carlos Fávaro, afirmou que no curto prazo devem ser abertos ao menos nove novos mercados internacionais. O foco está na exportação de alimentos, especificamente proteínas, carro-chefe da indústria alimentícia do Paraná.

Segundo o ministro, os novos compradores vão se somar à lista de quase 40 aberturas comerciais registradas em 2023. “Essas parcerias comerciais vão beneficiar de forma muito precisa o estado do Paraná, que já exporta em grandes volumes e que atua de forma tão importante na produção de proteínas. Novos mercados significam avanço econômico, social e de referência dos mais diversos segmentos. O Paraná é destaque na produção e transformação. Uma indústria forte e em evolução”, destacou.

Setor produtivo paranaense quer estimular estrutura em parques fabris

O avanço da cadeia produtiva está respaldado, no que depender do Sistema Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep). O presidente do órgão, empresário Edson Vasconcelos, reforçou que a Fiep está empenhada em percorrer o estado para sensibilizar poderes públicos à implantação de parques fabris em planos diretores, favorecendo vocações regionais e estratégias para a implantação de novos complexos.

“Precisamos olhar o estado mais pró-política industrial, não apenas para o que está aí. Mostrar que o Paraná é competitivo para instalar novas unidades de produção, mostrar aos investidores que temos condições, estrutura e que somos atrativos em muitas frentes”, afirma.

Para Vasconcelos, é essencial proporcionar aos gestores municipais um olhar específico sobre a indústria. Ele aponta que o fechamento de uma indústria dificilmente será suprido por outra no mesmo local e ramo e que por isso vocações precisam ser valorizadas.

Para que o projeto prospere, avalia Vasconcelos, é prioritário um cenário tributário mais favorável, assim como medidas regulamentatórias diferenciadas e de olhar especial ao enfrentamento à burocracia. “Um empresário não pode esperar um ano para um licenciamento. Ele vai para outro lugar assim como um plano diretor de um município que não esteja conectado ao potencial industrial, o que é prejudicial para o desenvolvimento. Os poderes precisam caminhar juntos com o setor produtivo”.

Sobre esse ponto, o presidente-executivo da Abia evidencia que a vocação na transformação dos produtos fez com que o Brasil saísse de uma condição de “celeiro do mundo”, em 2019, para “supermercado do mundo”, no último ano. “Em 2023 fomos a maior indústria exportadora de alimentos do planeta [em tonelagem comercializada]. Já tínhamos passado por pouco os Estados Unidos em 2022, mas em 2023 veio a consolidação. Ninguém exporta mais que o Brasil, mas também vendemos muito para o mercado interno”.

Do total produzido pela indústria brasileira de alimentos e bebidas em 2023, 73% foram consumidos pelos 210 milhões de brasileiros. Os outros 17% seguiram para exportação.



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