Passado, presente e futuro – Grupo Amanhã
No meu caso, o passado é pequeno, quase inexpressivo, e nada tem a ver com o presente
Como vocês sabem, eu dou aula de negociação internacional em workshops abertos e fechados há quase 30 anos. Um dos aspectos mais interessantes do debate que se instaura é pedir aos participantes que representem por uma bola a importância do passado, presente e futuro. Se for uma bola grande, é porque aquilo tem uma dimensão preponderante. Se for pequena, é obviamente por ela ser menos relevante. E depois, que as aproximem para mostrar qual delas tem influência na seguinte. No caso médio brasileiro, o menor peso é dado ao passado. O maior é o presente. E a do futuro é apenas levemente maior do que a do passado. Nos Estados Unidos, a do passado é quase insignificante. É uma bolinha isolada do presente, como se fosse uma esfera perdida. Na China e no Japão, o passado é muito importante. É representado por uma bola desproporcionalmente grande. Como poderia ser diferente se a veneração aos antepassados é ritualizada com rigor e respeito?
Na maioria dos países africanos, a bolinha do futuro é a que menos conta, mesmo porque, cognitivamente, muitos povos africanos não entendem o que é o futuro, o vir a ser, o amanhã. “Quando essa van sai?” “Quando estiver lotada”, eles dizem. “Mas quando vai lotar?” Eles riem. “Talvez em meia hora. Talvez amanhã, mas já ocorreu de esperarmos quatro dias.” A sensação de estarmos em outro planeta é absurda. Eles também ficam chocados com o surreal do nosso questionário. Numa família, numa empresa, num projeto de país, no planejamento, não dá para subestimar o valor dessa dimensão.
No meu caso, a minha representação é da ilustração deste post. O passado é pequeno, quase inexpressivo, e nada tem a ver com o presente. O passado para mim é alimento dos meus escritos e só. O presente é o principal. Por que a bola do presente toca na do futuro? Porque pra mim, o que eu fizer hoje terá impacto no que vou colher amanhã. Isso mudou ao longo da vida? Certamente. Lembro de quando o futuro era bem grande. Das vezes que mediei negociações intrincadas entre pessoas físicas e jurídicas – incluindo famílias que não conseguiam se entender quanto ao que fazer -, o segredo da resolução começava por essas bolinhas tão singelas. Quem tiver caneta e papel, faça sua representação e coloque-a aqui nos comentários para compararmos as versões. É divertido. Mesmo que a foto saia ruim como a minha.