Sob risco de ataque no Mar Vermelho, navios usam rota que atrasa viagem em duas semanas – Notícias



As recentes investidas e ataques de rebeldes houthis a navios mercantes no Mar Vermelho fizeram com que as principais empresas de carga do mundo anunciassem, nos últimos dias, a suspensão de rotas na região, que dá acesso ao canal de Suez, no Egito — caminho mais rápido entre a Ásia e a Europa, que recebe cerca de 15% do tráfego marítimo global.


O Houthi tem apoio do Irã e governa parte do território do Iêmen, o qual a costa é próxima ao estreito de Bab-el-Mandeb, por onde navios procedentes do sudeste asiático e do Golfo Pérsico, por exemplo, acessam o Mar Vermelho por águas internacionais.


No governo de Donald Trump, os EUA designaram o Houthi como organização terrorista, decisão que foi revogada em fevereiro de 2021 pelo atual secretário de Estado da administração Biden, Antony Blinken.


Desde o início da guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas, os houthis têm feito diversos ataques na região, como forma de demonstrar apoio aos extremistas islâmicos. Os dois pregam o fim do estado de Israel. 


O ato mais significativo foi o sequestro do transportador de veículos Galaxy Leader, em 19 de novembro, durante uma viagem entre Turquia e Índia. A embarcação é de propriedade da Ray Shipping, a qual um dos sócios é o empresário israelense Abraham Ungar.


O Galaxy Leader foi levado para o porto de Hodeida, no Iêmen, onde permanece ancorado. Os 25 tripulantes — oriundos da Bulgária, Ucrânia, Filipinas, México e Romênia — continuam sendo mantidos reféns e lhes foi permitido apenas “contato modesto” com suas famílias, informou no começo do mês a empresa proprietária do navio.


O governo americano classificou o caso de “pirataria” e disse que considera redesignar o Houthi como organização terrorista — apenas Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Iêmen adotam essa classificação para o grupo atualmente. 



Os ataques de artilharia a navios mercantes que passavam pelo estreito de Bab-el-Mandeb se intensificaram nas últimas semanas, alvejando pelo menos 20 embarcações. 


Na segunda-feira (18), o navio-tanque M/V Swan Atlantic, de bandeira norueguesa, sofreu “danos limitados” após ser atingido por múltiplos mísseis lançados pelos houthis.


Um navio do armador alemão Hapag-Lloyd foi outro alvo, na semana passada, fazendo com que as operações no Mar Vermelho fossem suspensas pela companhia. O mesmo ocorreu com outra gigante, a MSC.


“Em 15 de dezembro, o MSC Palatium III foi atacado enquanto atravessava o Mar Vermelho. Felizmente, todos os membros da tripulação estão seguros, sem relato de ferimentos. A embarcação sofreu danos leves pelo fogo e foi retirada de serviço. Devido a esse incidente e para proteger a vida e a segurança de nossos marinheiros, os navios da MSC não atravessarão o canal de Suez rumo ao leste e oeste até que a passagem pelo Mar Vermelho esteja segura. Estamos redirecionando alguns serviços via Cabo da Boa Esperança, garantindo operações ininterruptas e seguras”, disse em nota a companhia sediada na Suíça.


A francesa CMA CGM e a dinamarquesa Maersk também tomaram decisões semelhantes.


“Após o quase acidente envolvendo a Maersk Gibraltar ontem e mais um ataque a um navio porta-contêineres hoje, instruímos todos os navios Maersk na área destinada a passar pelo estreito de Bab al-Mandeb a pausar sua viagem até novo aviso”, disse a empresa em 15 de dezembro. 


A petrolífera BP, do Reino Unido, anunciou na segunda-feira que não permitirá que seus navios transitem pela região.


“Diante da piora na situação de segurança para o transporte marítimo no Mar Vermelho, a BP decidiu pausar temporariamente todas as travessias pelo Mar Vermelho. Manteremos essa pausa precautória em revisão contínua, sujeita às circunstâncias à medida que evoluem na região”, afirmou.


Cerca de 20% do consumo global de petróleo e gás passa por Bab el-Mandeb, e em torno de 98% dos navios que o atravessam também utilizam o canal de Suez, seja em direção à Europa ou à Ásia. Esse corredor recebe cerca de 30% do tráfego global de mercadorias.


As companhias marítimas chinesas COSCO, OOCL e Evergreen Marine também decidiram, ontem, suspender o transporte de cargas na rota do Mar Vermelho.



A impossibilidade de usar o canal de Suez cria um enorme problema para os armadores, uma vez que a rota secundária acrescenta semanas ao tempo de viagem.


O mercado de petróleo e gás, especificamente, é um dos que mais se beneficiam do canal, uma vez que os navios que saem do Golfo Pérsico em direção à Europa podem fazer o percurso de 12 mil km em cerca de 14 dias (até o Reino Unido).


Se essa rota precisar ser feita pelo Cabo da Boa Esperança, contornando o continente africano, ela se torna um caminho de 21 mil km, que leva em torno de 24 dias para ser completado.


Dependendo do destino da embarcação e das condições do mar, o tempo adicional de viagem pode superar facilmente duas semanas, causando atrasos, aumento de custos e problemas nas cadeias de suprimento.




Repercussão




A ministra alemã das Relações Exteriores, Annalena Baerbock, pronunciou-se sobre o ataque e afirmou que os houthis ameaçam o transporte marítimo internacional e a segurança de Israel.


“Os ataques dos houthis contra navios mercantes civis no Mar Vermelho devem cessar imediatamente”, declarou Annalena, em uma entrevista coletiva em Berlim.


“Esses ataques não apenas põem em perigo a segurança de Israel, mas também ameaçam o transporte marítimo internacional”, acrescentou.


Os Estados Unidos já possuem navios militares no Mar Vermelho — USS Mason, USS Carney (no estreito de Bab el-Mandeb), USS Bataan e USS Carter Hall — para garantir a segurança das demais embarcações, mas pretendem reforçar a presença naquelas águas.


O Comando Central das Forças Navais dos EUA anunciou no sábado (16) que o contratorpedeiro USS Carney “enfrentou com sucesso”, 14 drones suicidas lançados pelos houthis. 


Segundo o jornal britânico The Guardian, o secretário americano da Defesa, Lloyd Austin, deve anunciar uma operação maior nos próximos dias.


O governo americano está tentando fazer com que a China se junte a uma força internacional de proteção marítima, que está sendo montada no Bahrein e deve contar com o apoio da Jordânia, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Catar, Omã e Egito.




Canal de Suez




O Egito está particularmente preocupado com a escalada da violência e das ameaças promovidas pelos houthis, uma vez que o canal de Suez representa uma importante fonte de receita para o país — US$ 9,4 bilhões (R$ 46,5 bilhões), no último ano fiscal (encerrado em 30 de junho).


O presidente da Autoridade do Canal de Suez do Egito, Osama Rabie, informou no domingo (17) que está “acompanhando de perto as consequências das tensões atuais”. Ele acrescentou que o tráfego marítimo no canal está atualmente normal, sem entrar em mais detalhes.


O canal de Suez testemunhou eventos históricos significativos que levaram à interrupção do tráfego ao longo de sua rota vital.


Em 1956, a Crise de Suez eclodiu quando o presidente egípcio Gamal Abdel Nasser nacionalizou o canal, provocando uma resposta militar de Israel, França e Reino Unido. Durante o conflito, a passagem foi fechada, o que criou tensões geopolíticas e um realinhamento das influências na região.


Em 1967, durante a Guerra dos Seis Dias entre Israel e as nações árabes, o Egito bloqueou fisicamente os extremos do canal de Suez como parte de suas estratégias militares. Após o conflito, o canal permaneceu fechado, e 15 navios, conhecidos como a “Frota Amarela”, ficaram encalhados em seu Grande Lago Amargo.


Em março de 2021, o navio Ever Given encalhou enquanto passava pelo canal, bloqueando completamente o tráfego por seis dias. O prejuízo causado ao Egito foi estimado em cerca de US$ 100 milhões (R$ 495 milhões).



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