‘Ter febre maculosa é ganhar na loteria ao contrário’, diz especialista em meio a surto em Campinas – Notícias
A diretora do Departamento de Vigilância em Saúde de Campinas, Andrea von Zuben, forneceu mais detalhes sobre o surto de febre maculosa brasileira que ocorre na cidade e já deixou três pessoas mortas nos últimos dias. Ela disse que, embora ocorram casos com certa frequência, essa não é uma doença comum, devido ao fato de que a maioria dos vetores de transmissão, os carrapatos-estrela, não está infectada pela bactéria causadora da doença.
“Todo carrapato tem a bactéria? Não, somente 1% dos carrapatos. Ter febre maculosa é ganhar na loteria ao contrário, porque é bem baixa a probabilidade”, afirmou Von Zuben durante uma entrevista coletiva nesta quarta-feira (14).
Mas, então, o que explicaria o surto na fazenda Santa Margarida, em que três pessoas já morreram e há outros casos suspeitos sob investigação?
“O que deve ter acontecido na fazenda Santa Margarida? Uma grande concentração de carrapatos infectados. Essa foi a grande diferença. É bastante raro a gente ter essa forma, acometimento em surtos. Então, provavelmente, houve uma carga bacteriana grande nos carrapatos presentes lá”, complementou a especialista.
Em nota, o Ministério da Saúde ressalta que “o município de Campinas é uma área endêmica e que o período sazonal para a doença no país se estende de maio a setembro”.
Isso ocorre devido ao tempo mais seco, em que predominam as larvas e ninfas do carrapato-estrela.
A febre maculosa brasileira, causada pela bactéria Rickettsia rickettsii, ocorre nos estados da região Sudeste e no norte do Paraná e é mais grave do que a provoada pela Rickettsia parkeri, registrada em ambientes de mata atlântica (Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Bahia e Ceará).
É uma doença febril, de início súbito e alta letalidade, principalmente devido ao fato de ser confundida com outras doenças e não ser tratada a tempo.
No Brasil, em 2022, 37% dos pacientes que tiveram febre maculosa morreram.
“É uma doença que na fase inicial se confunde com várias outras que são muito mais frequentes. […] Como a incidência é muito baixa, ela acaba se perdendo entre aquelas que são mais frequentes”, afirmou o infectologista Rodrigo Angerami, da Secretaria Municipal de Saúde de Campinas e do Hospital de Clínicas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Os sintomas incluem febre, dor no corpo, cansaço, dor de cabeça e manchas avermelhadas no corpo (exantema), que podem surgir também em quadros de leptospirose, dengue, hepatite viral, salmonelose, encefalite, malária, meningite, sarampo, lúpus e pneumonia.
“Por que muitas vezes as pessoas acabam morrendo? Porque o médico fala ‘acho que é dengue, toma bastante água’, ‘acho que é uma virose, vai para casa´. Quando demora para instituir o tratamento, passadas 72 horas, o risco de morte aumenta muito”, relata Von Zuben.
O tratamento é feito com antibióticos (com doxiciclina, preferencialmente, ou cloranfenicol). A chefe da Vigilância em Saúde de Campinas, todavia, fez um alerta para que as pessoas que, eventualmente, tenham suspeita de contato com o carrapato não tomem medicações por conta própria.
“Não existe profilaxia, não existe prevenção. Precisa esperar ter febre. Só se toma antibiótico se tiver sintoma.”
Se esse tratamento não for feito nos primeiros três dias, a doença se torna multissistêmica e “acomete todos os órgãos que apresentam vasos sanguíneos”, o que inclui coração, pulmões, fígado, cérebro etc., segundo Angerami.
O período observado entre o início dos sintomas e o óbito é de seis dias.
Segundo a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, atualmente as áreas mais críticas são as regiões de Campinas e Piracicaba.
Por isso, pacientes que estiveram nessas áreas, especialmente em ambiente com vegetação, e apresentarem febre devem relatar ao médico o histórico de viagens nos últimos 14 dias.
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