Um papo maluco com Igor Guimarães, que ficou com a vaga de Léo Lins
“Ele é assim o tempo inteiro?” Essa é a pergunta que os amigos próximos de Igor Guimarães mais escutam. As pessoas têm curiosidade de saber se o humorista nunca “sai do personagem”, se fala sempre com sua voz característica, se nunca fica sério. A entrevista a seguir confirma que sim, ele é assim o tempo inteiro.
Prestes a embarcar para fazer seu stand-up para a comunidade brasileira em quatro cidades dos Estados Unidos, Iguinho vive o melhor momento de sua carreira. O intérprete dos personagens Advogado Paloma, Boneco Josias e Índio Ana Jones, que ficaram conhecidos nacionalmente durante seus anos integrando a trupe do Pânico, agora tem lugar fixo no The Noite, talk show de Danilo Gentili no SBT. Ele entrou na vaga deixada por Léo Lins, porém tentar abordar a situação atual de seu perseguido colega nesta entrevista não rendeu muita coisa, só piada.
O papo termina com suas dicas de filmes de terror. Além de todas as peculiaridades visíveis, o comediante de 31 anos criado em São Paulo e formado em jornalismo tem mais essa: ser obcecado por cinema de horror. Na verdade, em sua visão, humor e terror são gêneros muito próximos. Até que nesse momento da conversa ele foi menos gozador. Mas aí já era tarde, o questionário tinha chegado ao fim.
Como está sua expectativa para essa turnê pelos Estados Unidos? Pretende futuramente fazer stand-up em inglês e ter uma carreira lá fora, como o Rafinha Bastos?
A expectativa é pouca. Se eu sair vivo é um milagre. Brincadeira, pessoal, KKKKK. Estou muito feliz e animado para conhecer a América de um outro ângulo. E já vou falar algumas palavras em inglês durante esses shows. Por exemplo, vou entrar dizendo “Boa noite, gente! Que happy!”, que significa “Que alegria!”, em inglês. Eu vi o que o Rafinha está fazendo lá fora, acho maravilhoso o trabalho dele. É um profissional excelente. Mas nunca serei igual a ele, pois sou contra tatuagem tribal no braço. Ainda mais na idade dele, que já é mais avançada.
Você entrou para o elenco do The Noite substituindo o Léo Lins, que está tendo dificuldades para atuar como humorista. Acha que pode ser vítima de algo parecido com o que ocorre com ele ou seu tipo de humor mais nonsense está imune a represálias?
Na verdade, eu entrei no SBT para substituir o Chaves, ser o Chespirito brasileiro. E represália é uma coisa que todo mundo está sujeito a ter. Qualquer hora uma pessoa que defende as jacas pode vir e me processar por eu amar as jacas ou por odiá-las. Então, é sempre uma incógnita. Mas, pelo fato de eu estar com o CPF todo errado, talvez isso dificulte a chegada de processos futuros.
Mas como comediante a situação do Léo Lins te preocupa? É chato te pedir para falar sério, mas…
Falei poucas coisas sérias durante minha vida inteira. Talvez não seja o mais capacitado para abordar esse assunto. Mas acho que o problema do Léo Lins é, principalmente, por causa do alto uso de botox e de creatina na vida dele. Isso atrapalhou demais sua carreira. Já dei muito conselho para ele: “Pare com o whey! Seja natural!” Mas, cada um é cada um.
Você sempre gostou de participar de programas de TV populares e virou um colaborador frequente do Ratinho. O quanto isso impactou no seu público total, que incialmente era mais jovem?
Foi demais trabalhar com o Ratinho. Nunca fui tão abordado por grupo de idosas como estou sendo agora. Estou me sentindo a nova Inezita Barroso brasileira. Foi maravilhoso passar a ter esse público comigo. Estou amando e ganhando muitos biscoitinhos. Agora atinjo um público bem abrangente, que vai desde o vovô até o netinho e, em breve, os cães. Estou preparando meu primeiro solo para animais, o How-au-au. Dei um spoiler, hein?
Mas foi preciso adaptar o seu humor para esse tipo de atração na televisão aberta, que é muito diferente da audiência do Pânico na TV e do canal de YouTube de guaraná que você faz?
Eu sempre soube “render o bloco” nos momentos em que precisei. Sempre soube equalizar os universos diferentes. O stand-up me deu muito isso, um jogo de cintura para lidar com públicos distintos. Mas sempre é algo inesperado, né? A qualquer momento, alguém pode jogar uma maçã em mim. E, se for aquela da Turma da Mônica, que é docinha, eu aceito.
O dia em que você assumiu sua homossexualidade no programa Pânico, de frente para o Emílio Surita, foi muito marcante e deixou muita gente curiosa sobre como isso passaria a fazer parte do seu estilo de comédia. Você diria que isso entrou de forma sutil no seu humor?
Foi algo bem natural e transparente. Não me afetou em nada e, principalmente, foi muito absorvido pelo meu universo maluco. Se um dia eu falar que sou terraplanista, as pessoas vão dizer “ah, ele é mesmo. Sempre deu pinta de que era fã de uma Terra plana”. Pelo meu universo ser tão abrangente e maluquinho, as pessoas absorveram todas essas novidades da minha vida e as coisas diferentes que proponho. Acho que foi algo que fui construindo com o tempo e dizendo “aqui eu vim!”, né?
Como você é um consumidor contumaz de filmes de terror, gostaria que nos deixasse alguma recomendação dentro desse gênero.
Eu gosto muito de filme de terror porque eles conversam bastante com o humor: a surpresa, o inesperado. Sempre recomendo os filmes do Freddy Krueger (A Hora do Pesadelo). São muito maravilhosos. Além de criativos, eles são mambembes, feitos sem muitos efeitos especiais, então dá naquela coisa realista que é nota dez. Dos mais recentes, eu gostei bastante dos dois Terrifier, pois são bem trash. Ultimamente, tenho sido bem caseiro, assistido muito filme em casa, pois minha idade está começando a pegar, minha coluna começando a doer… Mas também gosto de sair, ver o pessoal, eu sou do povo, quase um Regino Casé brasileiro. Ir ao cinema é uma das coisas que mais gosto de fazer, estou sempre vendo os filmes e assistindo aos podcasts de cinema. E vejo desde os trash até o filme da Peppa Pig, do filme russo até o brasileiro. Toda forma de arte é válida e bacana.