Uma empresa não sobrevive sem disrupção
Painel, mediado por Jorge Polydoro, reuniu líderes da Acate, RandonCorp e Copel
Uma empresa não sobrevive sem disrupção. Esta foi uma das conclusões do painel de abertura na cerimônia de premiação do ranking 500 MAIORES DO SUL (clique aqui para ver o evento na íntegra). Intitulado “Como a inovação transforma os negócios do Sul”, o debate reuniu três líderes e importantes protagonistas em inovação nos seus estados: Marcel Malczewski, presidente do Conselho de Administração da Companhia Paranaense de Energia (Copel) e do Fundo TM3 Capital; Daniel Leipnitz, presidente do Conselho da Associação Catarinense de Tecnologia (Acate); e Sérgio Carvalho, CEO da RandonCorp, companhia sediada em Caxias do Sul (RS). A mediação foi de Jorge Polydoro, Publisher do Grupo AMANHÃ.
Ao comentar o panorama do ecossistema de inovação no Paraná, Malczewski chamou a atenção da plateia sobre o impacto que a tecnologia promoveu na gestão dos negócios. “Nenhuma empresa sobrevive sem disrupcão”, sentenciou. Ele rememorou o fato de que o desenvolvimento da inovação no Paraná se deu de forma muito orgânica reunindo empresas e universidades. Tanto é verdade que a Bematech, fundada por Malczewski, foi a primeira empresa incubada no estado. Na visão do presidente do Conselho de Administração da Copel, a inovação faz parte do perfil empreendedor dos empresários da região. Um exemplo disso é que Curitiba é sede da MadeiraMadeira, da Olist e do Ebanx, três unicórnios [startups que atingem uma valorização de US$ 1 bilhão].
Leipnitz destacou a importância da descentralização da economia das capitais como uma grande ferramenta para impulsionar a melhoria da condição de vida das pessoas. “Fracionar investimentos regionais fora dos grandes centros seria uma solução”, sugeriu, destacando que Santa Catarina quebrou um paradigma em 2021 alcançando um total de R$ 8 bilhões em fusões e aquisições de companhias do ramo de tecnologia sediadas em cidades de médio porte. “Isso só foi possível em razão de políticas públicas regionais no estado”, argumentou. Outro ponto de reflexão, segundo Leipnitz, é utilizar o poder do exemplo e a inveja positiva. “As pessoas comuns não se inspiram em empresários. Um rapaz de Brusque que venda uma startup que criou por R$ 60 milhões pode influenciar diversos jovens mostrando que há possibilidade de alcançar um sucesso dessa magnitude”, exemplificou. Para ele, conexões como essa podem gerar muitos empreendedores. “Talvez o maior exemplo que se conseguiu fazer tenha sido em Florianópolis, onde de 2016 a 2020 multiplicamos por quatro o número de empreendedores e empresas, totalizando mais de cinco mil no final desse período”, destacou.
Sérgio Carvalho, CEO da RandonCorp, contou a transformação pela qual a companhia caxiense passou nos últimos anos. Atualmente, os semirreboques são responsáveis por apenas um terço da receita global da empresa. A grande fatia do faturamento é fruto de novas verticais de negócios. Entre as inovações tecnológicas apresentadas pelo conglomerado está a primeira carreta elétrica do mundo que pode economizar entre 10% e 25% de diesel. “Criamos no final de 2017 um grupo dedicado exclusivamente para trabalhar com inovações, com ênfase em eletrificação e mobilidade, tecnologia embarcada e materiais inteligentes. E 18 meses depois, no fim de 2019, já conseguimos entregar ao mercado um produto muito mais avançado do que conseguiu a indústria automotiva alemã, referência no segmento”, contou. A empresa também criou compósitos que reduzem o peso dos componentes. Para substituir a fibra de carbono, nanopartículas de nióbio foram desenvolvidas. Elas podem ser misturadas com tinta, aumentando em cinco vezes a resistência da pintura e reduzindo o consumo de energia para secagem.
Disruptiva x incremental: por qual inovação optar?
Os três debatedores também opinaram sobre o modelo de inovação que deve ser feito pelas empresas – se o incremental [aquele que consiste em uma série de pequenas melhorias ou atualizações feitas nos produtos, serviços, processos ou métodos existentes, sem gerarem grandes impactos] ou o disruptivo [processo em que uma tecnologia, produto ou serviço é transformado ou substituído por uma solução inovadora superior]. Para Leipnitz, deve existir um equilíbrio entre ambos na busca pelo resultado de curto prazo. Na sua fala, ainda argumentou que há oportunidades gigantes dentro das universidades para realizar inovações diruptivas, mas que são muito pouco aproveitadas pelo mercado. “Presidi o Sapiens Parque por dois anos e pude testemunhar isso. São soluções par problemas ambientais e também de segurança, mas que não ganham publicidade”, revelou. Leipnitz entende que o acadêmico deve ser tão valorizado quando um jogador de futebol, cujo time que o descobriu sempre tem um percentual sobre a venda do passe ao longo de um período. “Não se trata de transformar necessariamente um professor em um empreendedor, mas ter uma politica pública que incentive o envolvimento da academia com a iniciativa privada”, esclareceu.
“Também lecionei e ainda há um dogma no Brasil onde um professor não pode ganhar dinheiro [com pesquisa]. O sistema de incentivo que temos é equivocado e, por isso, a aproximação das universidades com empresas tem se dado lentamente”, concordou Malczewski. Na visão dele, a inovação incremental é a mais realista para ser adotada pelas companhias nacionais. Para Carvalho, dependendo da estrutura organizacional, há espaço para os dois modelos. “Na RandonCorp temos cerca de 200 funcionários com a tarefa de procurar diariamente inovações disruptivas, mas outros 15.800 trabalhando evoluções incrementais que, somadas, podem ser tão boas quanto algumas disruptivas”, argumentou.