Violetas no divã – Grupo Amanhã


Nomes de marcas também passam por fases

Se você se chama Matheus ou Violeta, parabéns. Seu nome é o mais bonito do mundo, segundo um estudo divulgado esses tempos (veja aqui e também aqui). Mais interessante do que entender os critérios que levaram às escolhas, é notar que nomes próprios, assim como tantas outras coisas, passam por modismos.

No meu tempo de colégio e faculdade, não existiam Valentinas, Sofias, Enzos e Lourenços, com os quais fui topar quando professor, já passado dos 30 anos. Nem Yasmins, Martinas ou Conrados, que também andaram em voga. Em compensação, tive vários colegas de UFRGS com o mesmo nome que eu, num sinal de que André, no fim dos anos 1970, era razoavelmente popular.

Inevitável não levar o tema para a seara do marketing. Nomes de marcas também passam por fases. No início dos anos 2000, recorreu-se muito ao latim para batizar negócios e produtos: Novartis, Aventis, Meritor e Metris, por exemplo. A vantagem alegada era a boa sonoridade em vários idiomas.

Pouco depois, remédios começaram a se valer das consoantes X, Z e K, pois supostamente evocavam inovação: Efexor, Leponex, Visken. E mais recentemente, cidades brasileiras foram inundadas por estabelecimentos com os sufixos eria: paleterias, brigaderias, esmalterias, hamburguerias, temakerias etceteria.

A repetição pode ter enfastiado o consumidor, soterrado com tanta eria. Mas toda época tem os seus queridinhos: “Rei” disso ou daquilo, “Cia.” de alguma coisa, “Confraria” do não sei o quê…

Uma falta de criatividade que não faz jus ao brasileiro, mestre na arte do naming – ao menos de pessoas. O psicanalista trotamundo Contardo Calligaris (1948-2021) se espantava com a variedade de nomes próprios que encontrava por aqui, surgidos de combinações onomásticas improváveis, homenagens a ídolos do esporte e das artes ou da mais pura inventividade. Quem não lembra do jogador de futebol Odvan, batizado em homenagem à música “O divã”, de Roberto Carlos?

Segundo Calligaris, a ênfase em nomes incomuns escondia uma tentativa de singularização do indivíduo, visto que o sobrenome, herdado e imutável, poderia não dizer muito em um país de imigrantes.

Nos negócios brasucas é justamente o contrário. É a evocação de sobrenomes famosos, às vezes estrangeiros, as que mais rendem boas denominações. Méquidonis, Épou e Churrasic Park que o digam.





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